Plano de Pagamentos na Insolvência: Guia Completo 2025insolvência pessoal em Portugal.”>

Plano de Pagamentos na Insolvência

Guia Completo 2025 – A Alternativa à Exoneração: Reestruturação de Dívidas Sem Liquidação Total

Plano de Pagamentos na Insolvência Pessoal - Reestruturação de Dívidas
🎯 O Que É: O plano de pagamentos é uma alternativa à exoneração do passivo restante que permite ao devedor, no âmbito da insolvência pessoal, propor um acordo de reestruturação das dívidas aos credores, sem necessidade de liquidação imediata total do património. Funciona como uma negociação organizada judicialmente para reorganizar as obrigações de forma sustentável.

O Que É o Plano de Pagamentos?

O plano de pagamentos (também designado plano de insolvência com recuperação) é um mecanismo legal previsto no Código da Insolvência e Recuperação de Empresas (CIRE) que permite ao devedor pessoa singular propor aos credores um acordo de reestruturação do passivo.

Em vez de seguir o caminho tradicional da exoneração do passivo restante (liquidação total de bens + 3 anos de cessão + perdão), o devedor pode apresentar um plano alternativo que pode incluir:

  • Alargamento dos prazos de cumprimento — parcelar dívidas em mais tempo
  • Redução das taxas de juro — diminuir custos de financiamento
  • Perdão de parte do capital — redução do principal devedor
  • Constituição de garantias adicionais — oferecer garantias para aumentar confiança
  • Manutenção de alguns bens — evitar liquidação de casa, carro, etc.
  • Pagamentos escalonados — conforme capacidade financeira futura
✅ Objetivo Principal: Permitir ao devedor manter certos bens importantes (como a casa de família) enquanto cumpre um plano de pagamento acordado com os credores ao longo de um período determinado.

Plano de Pagamentos vs Exoneração: Qual a Diferença?

Esta é a pergunta fundamental. Ambos são caminhos possíveis dentro da insolvência pessoal, mas são mutuamente excludentes — tem de escolher um.

📋 Plano de Pagamentos

  • Negociação com credores
  • Pode manter bens (casa, carro)
  • Prazo negociável (3-10 anos típico)
  • Depende de aprovação dos credores
  • Mais flexível
  • Sem “perdão automático”
  • Melhor para quem tem bens a preservar
VS

🔓 Exoneração do Passivo Restante

  • Processo standardizado
  • Liquidação total de bens
  • Prazo fixo (3 anos de cessão)
  • Aprovação automática (se requisitos)
  • Menos flexível
  • Perdão total no final
  • Melhor para quem não tem património
CritérioPlano de PagamentosExoneração do Passivo
Liquidação de Bens❌ Não obrigatória — pode manter bens✅ Obrigatória — tudo é liquidado
AprovaçãoPrecisa de maioria de credores (>50%)Automática se cumprir requisitos
DuraçãoNegociável (tipicamente 3-10 anos)Fixa: 3 anos de cessão
Perdão de DívidasSó o acordado com credoresTotal no final dos 3 anos
Casa de Família✅ Pode manter❌ Normalmente vendida
ComplexidadeMais complexo — requer negociaçãoMais simples — processo standard
Ideal ParaQuem tem património a preservarQuem não tem bens significativos

Quando Escolher o Plano de Pagamentos?

O plano de pagamentos é recomendado quando:

✅ Situações Ideais Para Plano de Pagamentos

  • Tem casa de família que quer preservar a todo o custo
  • Tem rendimentos estáveis que permitem pagamentos mensais razoáveis
  • Dívidas são negociáveis — credores dispostos a conversar
  • Tem bens importantes (carro para trabalho, equipamentos profissionais)
  • Patrimônio tem valor significativo que seria perdido na liquidação
  • Credores principais são bancos — mais abertos a negociação
  • Situação temporária — expectativa de melhoria de rendimentos

❌ Situações Onde Exoneração É Melhor

  • Não tem bens de valor — nada a preservar
  • Rendimentos muito baixos — não há capacidade de pagar mensalidades
  • Credores intransigentes — recusam-se a negociar
  • Quer “recomeço rápido” — prefere perdão total a pagamentos longos
  • Dívidas esmagadoras — sem hipótese realista de pagar mesmo parcelado

Como Funciona o Sistema do Plano de Pagamentos

O processo de plano de pagamentos funciona em várias etapas sequenciais:

1. Declaração de Insolvência

Primeiro, tem de haver declaração judicial de insolvência. O devedor apresenta-se através de processo normal de insolvência, mas em vez de pedir exoneração, propõe plano de pagamentos.

2. Elaboração do Plano

O devedor (ou seu advogado), em colaboração com o administrador de insolvência, prepara uma proposta detalhada de reestruturação.

3. Apresentação aos Credores

O plano é formalmente apresentado a todos os credores que devem analisá-lo e decidir se aceitam ou rejeitam.

4. Votação em Assembleia

É convocada uma assembleia de credores onde votam pela aprovação ou rejeição do plano. Precisa de maioria qualificada.

5. Homologação Judicial

Se os credores aprovam, o plano é submetido ao juiz para homologação (confirmação judicial). O juiz verifica se é legal e justo.

6. Cumprimento do Plano

Uma vez homologado, o devedor passa a cumprir rigorosamente o plano durante o prazo estabelecido (tipicamente 3 a 10 anos).

7. Encerramento

Após cumprimento total, o processo é encerrado e o devedor fica livre das obrigações (só as dívidas incluídas no plano).

O Que Pode Incluir o Plano de Pagamentos?

O plano de pagamentos é altamente flexível e pode incluir várias medidas de reestruturação:

Medidas Típicas Incluídas

1. Extensão de Prazos

Exemplo: Dívida de €50.000 a pagar em 5 anos → proposta de extensão para 10 anos.

  • Reduz prestações mensais pela metade
  • Torna cumprimento mais viável
  • Credores recebem montante total (mas mais tarde)

2. Redução de Taxas de Juro

Exemplo: Crédito com juro de 12% TAN → proposta de redução para 5% TAN.

  • Reduz custos totais do crédito significativamente
  • Mais sustentável para devedor
  • Credores aceitam perda marginal mas recebem capital

3. Perdão Parcial de Capital (Haircut)

Exemplo: Dívida de €80.000 → proposta de perdão de €20.000, pagamento de €60.000.

  • Credores aceitam perda de 25% do capital
  • Devedor compromete-se a pagar os restantes 75%
  • Alternativa melhor que insolvência total (onde receberiam muito menos)

4. Carência Inicial

Exemplo: Período de 12 meses sem pagamentos, depois retoma com prestações.

  • Dá tempo ao devedor para estabilizar situação
  • Credores aceitam atraso mas garantem pagamento futuro

5. Pagamentos Escalonados

Exemplo: Primeiros 2 anos: €200/mês. Anos 3-5: €400/mês. Anos 6-8: €600/mês.

  • Acompanha expectativa de melhoria de rendimentos
  • Mais realista que prestação fixa alta desde início

6. Constituição de Novas Garantias

Exemplo: Oferecer hipoteca sobre imóvel que não tinha garantia.

  • Aumenta confiança dos credores
  • Pode facilitar aprovação do plano

7. Manutenção de Bens Específicos

Exemplo: Propor manter a casa de família, mas ceder carro e poupanças.

  • Preserva bem mais importante
  • Credores recebem outros ativos

Quem Pode Propor um Plano de Pagamentos?

A lei permite que várias partes proponham um plano:

Quem Pode ProporObservações
O Devedor InsolventeÉ o mais comum — apresenta proposta própria com ajuda do advogado
Administrador de InsolvênciaSe vê viabilidade, pode propor plano mesmo sem pedido do devedor
Qualquer CredorCredor individual pode propor se achar que é melhor que liquidação
Grupo de CredoresCredores que representem pelo menos 1/5 dos créditos totais
Na Prática: O mais comum é o devedor propor o plano, pois é quem tem maior interesse em preservar bens e conhece melhor a sua capacidade de pagamento futura.

Processo de Aprovação do Plano

Para um plano de pagamentos entrar em vigor, precisa passar por duas aprovações:

1. Aprovação pelos Credores (Votação)

2. Homologação pelo Juiz

Votação dos Credores: Como Funciona

É convocada uma assembleia de credores onde cada credor tem direito a voto proporcional ao seu crédito.

Regras de Votação

  • Cada €1 de crédito = 1 voto — quem tem mais crédito tem mais votos
  • Maioria necessária: Mais de 50% dos créditos votados devem aprovar
  • Credores ausentes: Contam como abstenção, não como voto contra
  • Credores públicos: Finanças e Segurança Social também votam

Exemplo Prático de Votação

Cenário:
  • Banco A: €60.000 de crédito → Vota SIM
  • Banco B: €30.000 de crédito → Vota NÃO
  • Finanças: €20.000 de crédito → Vota SIM
  • Fornecedor: €10.000 de crédito → Não comparece (abstenção)

Total de créditos: €120.000
Votaram SIM: €80.000 (66,7%)
Votaram NÃO: €30.000 (25%)
Abstenção: €10.000 (8,3%)

Resultado:APROVADO — mais de 50% votaram a favor

E Se Credores Rejeitam?

Se o plano é rejeitado pelos credores:

  • O processo continua com liquidação tradicional
  • Devedor pode optar por pedir exoneração do passivo restante
  • Pode tentar propor novo plano com condições diferentes

Homologação Judicial: A Aprovação Final

Mesmo que os credores aprovem, o plano não entra em vigor automaticamente. Precisa de homologação (confirmação) pelo juiz.

O Que o Juiz Verifica?

  • Legalidade: O plano cumpre requisitos legais?
  • Viabilidade: O devedor tem realmente capacidade de cumprir?
  • Boa fé: O plano é honesto ou tentativa de fraude?
  • Equidade: Trata todos os credores de forma justa?
  • Respeito pela graduação: Respeita prioridades legais de créditos?

Causas de Recusa de Homologação

  • Plano manifestamente inexequível — devedor não tem rendimento para cumprir
  • Violação de direitos fundamentais — prejudica trabalhadores injustamente
  • Falta de boa fé — tentativa de enganar credores
  • Irregularidades processuais — votação foi viciada
✅ Após Homologação: O plano torna-se legalmente vinculativo para todos — devedor e credores — mesmo os que votaram contra. É como um “contrato judicial” que todos têm de cumprir.

Cumprimento do Plano: O Que Acontece Depois

Uma vez homologado, começa a fase de cumprimento do plano — tipicamente 3 a 10 anos.

Obrigações Durante o Cumprimento

  • Pagar prestações mensais — conforme calendarizado no plano
  • Manter emprego estável — trabalhar para gerar rendimentos
  • Informar alterações — mudança de emprego, morada, situação familiar
  • Não contrair novas dívidas — sem autorização prévia
  • Colaborar com fiduciário — fornecer informações solicitadas
  • Não ocultar bens ou rendimentos — transparência total

Monitorização

O administrador de insolvência (ou fiduciário) continua a monitorizar:

  • Recebimento de pagamentos mensais
  • Distribuição aos credores conforme plano
  • Cumprimento de outras obrigações
  • Relatórios periódicos ao tribunal

Vantagens do Plano de Pagamentos

✅ Para o Devedor

  • Mantém bens importantes — casa, carro, equipamentos
  • Evita liquidação total — património preservado
  • Controlo sobre processo — propõe condições próprias
  • Dignidade preservada — não “perde tudo”
  • Flexibilidade de prazos — adaptado à capacidade
  • Possibilidade de negociar redução — perdão parcial
  • Menos impacto familiar — família não perde casa

✅ Para os Credores

  • Recebem mais do que em liquidação — valor de realização é baixo em leilões
  • Pagamentos ordenados — previsibilidade
  • Evitam custos de execução — processo mais económico
  • Solução negociada — todos ganham algo
  • Menos tempo de espera — liquidação pode demorar anos

Desvantagens e Riscos do Plano

❌ Desvantagens

  • Depende de aprovação — credores podem rejeitar
  • Processo mais complexo — requer negociação habilidosa
  • Prazo longo — pode durar 10 anos de pagamentos
  • Sem perdão automático — só o acordado é perdoado
  • Risco de incumprimento — se não cumprir, volta à liquidação
  • Menos “recomeço” — não há “fresh start” total
  • Pressão psicológica — 10 anos de prestações mensais

E Se Não Cumprir o Plano de Pagamentos?

O incumprimento do plano de pagamentos tem consequências graves:

⚠️ Consequências do Incumprimento

  • Resolução do plano: O juiz pode declarar o plano resolvido (cancelado)
  • Volta à liquidação: O processo regressa à fase de liquidação de bens
  • Perde bens preservados: Casa e outros bens que tinha mantido são agora liquidados
  • Credores executam: Podem retomar execuções individuais
  • Perde todo o esforço: Anos de pagamentos feitos não contam como “crédito”

Causas de Incumprimento

  • Falta de pagamento — não paga prestações mensais
  • Atraso superior a 3 meses — mora grave
  • Ocultação de bens/rendimentos — falta de transparência
  • Novas dívidas sem autorização — violação de regras
  • Recusa de colaboração — não fornece informações

Modificação do Plano

Se surgem dificuldades imprevistas (desemprego, doença), é possível pedir modificação do plano:

  • Propor nova assembleia de credores
  • Apresentar condições alteradas (menor prestação, prazo mais longo)
  • Precisa de nova aprovação de credores e homologação

Casos Práticos: Quando Funcionou

📖 Caso 1: Família com Casa Própria

Situação: Casal com 2 filhos, casa avaliada em €150.000, dívidas de €80.000 (crédito habitação + pessoal).

Plano Proposto:

  • Manter a casa (não liquidar)
  • Pagar €400/mês durante 10 anos (total €48.000)
  • Perdão de €32.000 (40% das dívidas)
  • Redução de juros de 8% para 3%

Resultado: ✅ Credores aprovaram (melhor que vender casa em leilão por €100.000 e dividir)

📖 Caso 2: Trabalhador Independente

Situação: Profissional liberal, dívidas de €50.000, rendimento irregular mas potencial de melhoria.

Plano Proposto:

  • Primeiros 2 anos: €200/mês (período de estabilização)
  • Anos 3-5: €500/mês (aumento gradual)
  • Anos 6-8: €800/mês (consolidação)
  • Total a pagar: €45.000 (perdão de €5.000)

Resultado: ✅ Aprovado — pagamentos escalonados adaptados à realidade profissional

Perguntas Frequentes (FAQ)

❓ Posso propor plano de pagamentos se já pedi exoneração?

Não simultaneamente. São mutuamente excludentes. Tem de escolher um caminho logo no início. Se já pediu exoneração, não pode “mudar de ideias” para plano depois.

❓ O que acontece se um credor grande vota contra?

Depende do peso dele. Se representa mais de 50% das dívidas totais, pode bloquear o plano sozinho. Por isso é fundamental negociar antecipadamente com credores principais.

❓ Posso incluir redução de dívidas fiscais no plano?

Teoricamente sim, mas na prática muito difícil. Finanças e Segurança Social raramente aceitam perdão de capital. Podem aceitar extensão de prazos, mas não redução.

❓ E se minha situação melhorar durante o plano?

Continua a pagar conforme plano. Não é obrigado a pagar mais só porque ganhou mais. O plano é vinculativo para ambos os lados — credores também não podem pedir mais.

❓ Quanto tempo demora aprovar um plano?

Desde apresentação até homologação: 4-8 meses tipicamente. Inclui: preparação (1-2 meses), votação (2-3 meses), homologação (1-3 meses).

❓ Posso vender a casa durante cumprimento do plano?

Depende do que está no plano. Se o plano permitir e credores autorizarem, sim. Mas normalmente o produto da venda deve ser usado para pagar credores antecipadamente.

❓ E se ficar desempregado a meio do plano?

Deve informar imediatamente o administrador e tribunal. Pode pedir modificação do plano (suspensão temporária ou redução de prestações). Desemprego involuntário é justificação aceite.

❓ Plano de pagamentos aparece no Banco de Portugal?

Sim. Como é um processo de insolvência, fica registado na CRC (Central de Responsabilidades de Crédito) durante cerca de 5 anos, afetando acesso a novo crédito.

❓ Vale a pena pagar advogado para fazer plano?

Absolutamente sim. Um plano bem estruturado e negociado profissionalmente tem muito mais probabilidade de aprovação. O investimento em advogado especializado compensa.

❓ Depois de cumprir o plano, fico “limpo”?

Sim e não. As dívidas incluídas no plano ficam extintas após cumprimento total. Mas o registo da insolvência demora cerca de 5 anos a desaparecer da CRC.

Última Atualização: Dezembro 2025
Autor: Dr. António Pina Moreira — Advogado Especialista em Direito de Insolvência
Contacto: Marque consulta para avaliar se plano de pagamentos é viável no seu caso

Este conteúdo é fornecido apenas para informação geral e não constitui aconselhamento jurídico. Para aconselhamento específico, consulte um advogado qualificado.

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